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Sunday, October 19, 2008

Sobre os tailandeses

O povo tailandês possui uma cultura única. São muito orgulhosos de nunca terem sido colônia de nenhuma potência européia: franceses, ingleses, espanhóis e portugueses tentaram, mas sempre foram expulsos. Ao contrário de TODOS os demais países vizinhos.

Portanto, sua cultura é muito diferente dos demais. A começar pela relação com o Rei. A dinastia dos Rama está na nona geração, desde 1782. Foram os responsáveis pela unificação e consolidação do Reino de Sião, Tailândia desde 1949, e pelos principais impulsos de desenvolvimento econômico e social do país.

A começar pela língua, uma das mais antigas do mundo: Austro-Thai. Chegou à região à partir da Índia, quando um dos reis antigos decidiu implantar uma língua única, diferente das demais da região para evitar que o povo sofresse influencia de outros reinos.

Nenhuma língua do Sudeste Asiático é parecida com o Thai. Apenas é falada aqui.

A língua é tonal, possui 44 consoantes que representam 21 sons consoantes e 32 vogais que lidam com 48 sons diferentes. Muitas vezes há 5 entonações diferentes para uma vogal ou consoante. Escrevem direto, sem interrupções, espaços, vírgulas ou pontos.

E o pensamento não é muito estruturado para falar: "Zoológico parque próximo casa meu ontem vou você com" Entendeu? Não? É um problema para os ocidentais. Mais fácil falar francês e russo.

Esta sopa de letrinhas, sem estrutura de raciocínio se junta a alguns valores, crenças e código moral muito particulares. Fruto de toda a estratégia adotada pelos reis para consolidar a região ao longo de séculos.

Vou descrever alguns valores que são muito importantes na vida de qualquer tailandês. E todo Farang, como eu, deve aprender a lidar com eles se quiser ser reconhecido na sociedade e poder ter o respeito das pessoas.

KRENG JAI - é a crença do tailandês no respeito à autoridade. A criança thai, com 2 a 3 anos de idade, começa a perguntar tudo sobre o mundo. Em 3 meses na escola, ela deixa a curiosidade de lado e aprende que não deve perguntar os motivos de nada, que o conhecimento deve ser transmitido por aqueles que são mais seniores e respeitados: o Rei, os professores...

Alguns devem estar pensando. Puxa, que bom !!! Mas cuidado. O Kreng Jai está tão embutido na cultura tailandesa que o tailandês não se sente confortável em questionar a autoridade de quaisquer chefes, inclusive Farangs. Portanto, podem saber que o que você está fazendo está errado, mas por respeito, nunca te alertarão. Eles partem do princípio que todos que estão em uma escala superior sabem mais e não devem ser interrompidos ou questionados.

Também dizem SIM para tudo, mesmo quando não entendem nada. Portanto, o SIM aqui pode ser 4 coisas: Não, Talvez, Não entendí e, raríssimas vezes, Sim. Complicado...

NAM JAI - É a crença na caridade, em oferecer ao próximo o melhor de sí sem expectativas de retorno imediato. Adoram comer em conjunto, dividindo pratos, doces. Pensam primeiro no coletivo e isto é complicado para as culturas ocidentais que se apóiam no indivíduo. Portanto, quem quer dar presentes ou oferecer jantares com nota fiscal para reembolso, pode esquecer: valor é ZERO. Eles consideram quem põe a mão no próprio bolso, independente do valor. Ligam muito para a intenção. Pague água na rua quando estão com sede que você fará mais bonito que um jantar caro. A boa intenção, de coração é o que vale. E os Farangs entendem isto?

ALUM ALUI - São positivos sempre. Respondem positivamente mesmo a situações difíceis. Ou seja, estão sempre com um sorriso no rosto. Alguns Farangs pensam que são irônicos, falsos. Mas, a maioria na verdade possui uma máscara de sorriso, mesmo quando estão sofrendo, para evitar transmitir aos outros suas preocupações. Outra dificuldade para os ocidentais, que estão sempre com "Cara de tigre" como os thais falam. Eles não entendem a razão de alguém dar "uma bronca" com cara feia. Gostam de quem sorrí o tempo todo.

Adoram futebol. Todo thai torce para um time inglês e para o BRASIL ("Básil, Khum Paulôôooo"). Não conseguem falar nenhum dos nomes de jogadores brasileiros direito, mas ficam felizes ao falar da melhor seleção do mundo.

E gostam de comer. Comem o dia todo, sem parar, todo tipo de snacks, doces, frutas com sal, dividem tudo entre sí. Não engordam pois a comida, apesar do açúcar nos doces e do chilli, é sem gordura. Apesar disto, a refeição da noite é a mais importante.

Estou ficando tailandês quando o assunto é comida salgada: peixes, sopas, noodles, arroz, frutos do mar, carne de porco. Como tudo com chilli adicional. E eles olham para esta cara de Farang e atiram: "Khum Paulôôôooo, cuidado que é apimentado". E eu prontamente repondo: "Pode pedir". Quando a comida chega, me vêm colocando meia colher de chilli seco; alguns arregalam os olhos, com razão, e dizem: "Cuidado Khum Paulôôôooo". E após comer o noodle soup quente com extra chilli, estou bem e o thai do meu lado suando como se tivesse corrido 40 min. Em geral, nesta hora, respondo, apenas para ele: "Sou mais thai que você quando o assunto é comida, certo?". É minha onda diária com eles :)

Tenho dúvidas se, ao voltar para o Brasil, conseguirei comer algo sem pimenta novamente. Acho que vai ser complicado, pois faz diferença no sabor da comida. E você vicia.

Após a comida, claro, muita água, com muito gelo, como eles gostam. E nós, não temos como dizer não, pois não entendem nada de nosso inglês, especialmente na rua.

Já tentei algumas vezes pedir comida sozinho e aconteceu de tudo: trouxeram o prato trocado, porco no lugar do pato, sopa no lugar do noodle, camarão seco no lugar do cozido... e o ápice foi uma senhora que simplesmente recusou me servir, mesmo apontando o prato !!! Depois descobrí o motivo: não se aponta para nada aqui. Indique com a palma da mão aberta. Mas ela estava sorrindo o tempo todo...

Também um pouco da verdade. Atender Farangs dá trabalho. E eles, apesar das diferenças culturais, não gostam muito disto. O negócio é viver com o "boi na sombra" esperando o salário no final do mês, se a empresa ou o governo permitir.

Foi assim que os Reis conquistaram territórios por aqui. Pensam vocês que eles brigavam para conquistar terras? Na maior parte das vezes, eles prometiam boa vida, remuneração sem trabalho, para as vilas se anexarem pacificamente ao Reino de Sião. E assim, foram caminhando, crescendo. Guerras apenas para expulsar Burmeses, Malaios e Farangs.

Quem gosta de trabalhar por aqui são os descendentes de chineses. Acredita-se que pelo menos 50% da população é Thai-chinese. São os que detém o dinheiro.

Em uma próxima explico a estrutura social daqui. É interessante.

1 comment:

Unknown said...

Muito interessante Paulão! É muito difícil dizer o que é certo e o que é errado quando comparamos culturas tão diferentes. Mas, pelos valores descritos, no mínimo me parecem mais harmônicos que nós... É para se refletir muito sobre tudo isso que você escreveu, principalmente nos temas de coletividade vs individualidade e boa intenção vs valor financeiro...

Continue nos alimentando de informações, já que a gastronomia ainda não pode ser disfrutada virtualmente.

Abração.